Era ainda muito cedo e Zézinho já estava a caminho. O seu irmão mais velho, o Manel, era o ardina da aldeia e antes de sair de casa para fazer chegar o mundo inteiro à sua aldeia, tinha o cuidado de o acordar. Todas as manhãs cumpriam o mesmo ritual. Manel deixava o leite já aquecido para o irmão, enquanto Zézinho lhes preparava a merenda para a bucha da manhã.
A doença repentina e posterior morte da mãe obrigara-os a trabalhar cedo. O suor do trabalho do pai não chegava para o mês todo e eles decidiram trabalhar. Manel tinha apenas mais 2 anos que Zézinho, que só contava 10. Contudo, não abandonaram a escola. Trabalhadores-estudantes eram o orgulho do pai, que por vezes se sentia envergonhado pela situação em que os tinha colocado.
~***~
Zézinho era aprendiz num estúdio fotográfico. Todas as manhãs abria a porta da loja, subia os estores e ligava a caixa registadora. Lá dentro, na ante sala, verificava se os espelhos estavam limpos, colocava os pentes na tina, borrifava-lhes álcool para os desinfectar e matar algum piolho que lá tivesse ficado e colocava a tina à janela para que o álcool evaporasse mais depressa. Depois, dirigia-se à sala onde tudo acontecia. Reorganizava os painéis, ajeitava o conteúdo do velho baú, limpava as lentes, verificava a iluminação e a altura dos bancos – gostava de os ver nivelados à mesma altura. Tinha para si que aquele espaço deveria parecer sempre novo.
Enquanto preparava todo o cenário para mais um dia de emoções, sonhava com o dia em que deixaria de ser aprendiz e se tornaria num profissional como o Sr. Jacinto, o fotógrafo.
O Sr. Jacinto era experiente. No ramo há muitos anos, também ele havia começado como Zézinho, limpando e organizando a loja e, por isso dava muito valor ao seu trabalho.
Quando o Sr. Jacinto chegava, tudo estava pronto. E nessa altura Zézinho saía a correr para se encontrar com Manel na praça e juntos seguirem para a escola. Só tinham aulas de manhã e isso dava ao Zézinho tempo para regressar à loja e ajudar o Sr. Jacinto no que ainda fosse preciso. Afinal era seu aprendiz e queria ser como ele.
~***~
Era aí que tudo começava! A partir dessa altura Zézinho entrava no mundo mágico dos sonhos. No mundo mágico das pessoas que sonhavam acordadas. Das pessoas que imortalizavam momentos que apenas existiam para si próprias. E Zézinho sonhava com elas. Viajava com as personagens que aquelas pessoas queriam representar e com elas travava grandes diálogos.
O Sr. Jacinto dizia muitas vezes a Zézinho:
“A vida é uma fantasia. Toda a gente tem o direito de sonhar.”
Por isso o velho baú do estúdio guardava em si vestes. Não havia quem ali entrasse que não se fantasiasse de qualquer coisa. Algumas pessoas chegavam mesmo a levar adereços de casa e a oferecê-los ao Sr. Jacinto “para quem com eles quisesse sonhar!”
~***~
O estúdio era pequeno e apertado, mas lá era possível dar a volta ao mundo inteiro, quase com um passe de magia, uma simples troca de painéis. Era possível transformar o dia em noite em segundos… Sonho e realidade misturavam-se constantemente naquele estúdio.
A D. Elisa era uma dama. Uma vez por semana entrava no estúdio. Zézinho já sabia quem ela queria ser, então, à quarta-feira até ia mais cedo para preparar também as coisas dela. Adorava a felicidade com que a senhora saía dali.
Ela esmerava-se tanto nas roupas e adereços, que muitas vezes parecia mesmo uma Rainha do século XVIII. Escolhia sempre um figurino de época. Maquilhava-se já com as mãos trémulas e, para dar impressão de saúde, coloria a face com ‘rouge’. O saiote rodado e as saias enormes sobre arames, encorpavam os tecidos moles que nunca tinha tido vergonha de os mostrar. Mas ali não. Ali sentia-se como uma rainha. Preparava-se, o rosto tornava-se sério, colocava-se em pose erecta, mais por causa do corpete, e parecia que estava pronta a transformar todos à sua volta em servos e lacaios.
Ao fundo, o Sr. Jacinto prepara tudo. Escolhe o painel perfeito, com outro palácio ao fundo antecedido por um esplendoroso jardim de flores brancas e vermelhas. No centro um repuxo que brota água da boca de pequenos anjos. Alguns nobres de tal forma retratados que parecia que lhe faziam a ‘corte’. Tudo milimetricamente arranjado para que a foto ficasse perfeita. Como se D. Elisa estivesse lá, efectivamente.
O Sr. Jacinto interrompe o sonho por uns segundos:
“- Atenção… Isso mesmo… e
“buf”!
Uma e outra, e outra vez mais. O flash vai disparando à medida que D. Elisa vai mudando de ‘pose’.
Depois D. Elisa troca de roupa, sai e vai muito satisfeita. No final do dia o Sr. Jacinto levará as fotos a sua casa, para que escolha as que melhor ilustram o seu sonho…
Na ante sala outro cliente se prepara… É o Sr. João, o padeiro… vai ser comandante.
~***~
A verdade é que todos os clientes do Sr. Jacinto saiam da sua loja muito satisfeitos. De alma renovada. De peito inchado. E o Sr. Jacinto achava que ainda era vivo por isso mesmo. Por ter o dom de fazer os outros felizes.
“Toda a gente tem o direito de sonhar” e no Estúdio Fotográfico do Sr. Jacinto, todos os sonhos se tornavam realidade.
Era isso que fascinava o pequeno Zézinho e o fazia levantar-se antes das galinhas… para ajudar o Sr. Jacinto a realizar sonhos.
“Um dia sou eu que os vou realizar” – pensava ele com um sorriso nos lábios…
~***~
Lá fora a placa, em letras grandes:
FOTOGRAFAM-SE SONHOS
Que linfo fotografar sonhos...Lindo teu blog.Parabéns!beijos,chica e tá com cheirinho de novo!
ResponderEliminarNão conseguia dormir e por conseguinte levantei-me da cama, liguei o portátil e por falta de melhor 'liguei' também o blogue, e deparo-me com esta surpresa...
ResponderEliminarQuerida Lala, estou encantada com este teu novo cantinho. Tenho a certeza que muitos sonhos se vão fotografar aqui neste contos de encontro. Parabéns!
Como diria a minha avózinha 'muita saúde para te gozares dele'.
Beijinhos :)
Bonito. Uma pessoa tem que se escapar, seja lá por onde for.
ResponderEliminarChica, minha querida! Obrigada pela visita! Ainda bem que gostaste!
ResponderEliminarBeijinhos**
Helga, obrigada! Este conto foi o que me deu menos "trabalho" e mais prazer... imortalizar sonhos deve ser fantástico... e apenas com um "flash"!
ResponderEliminar**
O 'recado da tua avózinha será tido em conta... não tenhas dúvida! São sempre sábios os recados dos avós!
Beijinho**
El Matador... seja lá por onde for... e se existir algures alguém que imortalize essas nossas escapatórias... melhor ainda!
ResponderEliminarObrigada, mais uma vez!
Beijinho**
Muito bonito... vale sempre a pena lembrar que nunca é tarde para realizar os sonhos.
ResponderEliminarBjs Lala
Isso mesmo... nunca é tarde!
ResponderEliminarObrigada Caty, mais uma vez!!
Beijinho**
O sonho comanda a vida,não é?História contada de tal forma que às tantas estava a vestir a "pele"do Zézinho e a sonhar como ele...gostei!
ResponderEliminarBj*
Pois é Vitor... é o que melhor levamos da vida... os nossos sonhos, senão imortalizados numa folha de papel, pelo menos imortalizados no nosso coração!
ResponderEliminarDeu-me prazer escrever este conto!
Obrigada
Beijinho**
Já cá estou! ;) Lindo conto Lala! bjs
ResponderEliminarObrigada Bela! ;)
ResponderEliminarBeijinho**
adorei este teu novo cantinho... já cá estou para ler\ver os teus sonhos...
ResponderEliminarbeijinhos
Obrigada caminhante!
ResponderEliminarBeijinhos**
Lala,
ResponderEliminarAcho que fizeste muito bem em "separar as águas". Este teu conto é um mimo. As personagens são muito cativantes. Adorei. Adorei. Adorei.
Continua.
Beijocas
Opá... tá muito catita o espaço. :p Feminino sem ser lamechas e assim... :D
ResponderEliminarMas lala, lalaaaaaaaa, pluamordedeus, mete-me a letra um bocadinho maior que senão eu não consigo ler. :'(
A graduação dos meus óculos na chega para esta letra tão miudinha.
Se não quiseres, it's okay, eu assim que tiver um tempo imprimo. Deve dar para aumentar se imprimirmos... :\
bjinhoS**
Forcei os olhos à leitura. Sou teimosa.
ResponderEliminarAdorei o conceito do conto... sonhos fotografados. Muito mágico e encantado. Tem um talento especial para o estilo "conto de fadas".
Presumo que venha de dentro de ti.
bjinho grande*
Natália muito obrigada!
ResponderEliminarBeijinho**
Ginginha... epá, obrigadaaaaa! Foram 2 dias para tentar encontrar o layout mais adequado. sabes aquele que tu vês e dizes: é este! Pois... foram 2 dias. E já tinha o texto pronto e de layout, nada!
ResponderEliminarAh ah! E eu que coloquei este tamanho de letra porque achei: ah, não! não há-de haver ninguém que veja assim mal, como eu... e se eu consigo, qualquer um consegue... Tens razão... neste já não fui a tempo, mas nos próximos vou ter-te em muita consideração... não quero que troques os olhinhos por minha causa!!!
**
Sobre o texto em si, obrigada... é, talvez seja mesmo de mim... tipo: "'tás cá dentro'" (tens que bater com o punho direito no peito 2 vezes ahahahah)!
Beijinho**
Very, very good.
ResponderEliminarVery, very nice.
Johnny, Thank you very very much!! (não sei onde foi parar o teu comentário johnny, este blogger teima em desafiar-me, mas eu juro' que aceitei o comentário... eu juro')
ResponderEliminarvês???? agora já apareceu!!
ResponderEliminarOlá Lala
ResponderEliminarGosto muito do teu novo blogue, o visual está lindo de morrer, muito romântico, muito estilo estúdio fotográfico dos anos 20... a condizer com a história.
Gosto muito da ideia de fotografar sonhos :)
Bjs
Tornam-se imortais, não é Teresa?
ResponderEliminarObrigada!
Beijinhos**
Gostei muito de visitar este blog. Recentemente criei um blog pessoal que gostaria muito de divulgar por esta aldeia global. Se fosse possível colocar o meu link ficaria muito agradecido. Se o fizer, avise pf para o meu blog para que possa colocar o seu link também com todo o gosto. Forte Abraço e boa continuação!
ResponderEliminarhttp://naruadaamargura.blogspot.com/
Olá macaco do 1ºD. Sê bem vindo ao meu mundo dos contos e ao mundo dos blogs!
ResponderEliminarVolta sempre que quiseres!
beijinho**
Temos de dar espaço aos nossos sonhos Lala.
ResponderEliminarO teu conto é uma fantasia linda e suave.
Parabéns!
Fizeste muito bem em abrir este novo espaço.
Eu gosto muito dos teus contos e é pena os que tens lá no outro lado na "sopa de letras" não estarem aqui... Ficava como se fosse um livro de histórias, entendes?
beijinhos
MZ, que bom ter-te de volta!! Obrigada!!
ResponderEliminarJá tinha pensado em colocar aqui os outros contos... concordo contigo...
Beijinhos**
Gostei muito deste teu conto, fico à espera de outros.
ResponderEliminarBjocas
Patty
Obrigada Patty! Eu também fico "à espera" de conseguir escrever outros!!
ResponderEliminarBeijinhos**
Belíssimo.
ResponderEliminarhttp://compromissocomoacaso.blogspot.com/
Obrigada Juci!!
ResponderEliminarBeijinho**
Que bela fábrica de sonhos, a do sr. Jacinto! E que bela forma de encarar a vida, torneando as suas asperezas em laivos de magia.
ResponderEliminarGostei muito!
Bj